Autores selecionados para a entrevista:
TJ
Nicodemus - https://www.amazon.com/author/tjnicodemus
Mauricio
R B Campos – http://www.mauriciorbcampos. com.br
Marcio
Muniz - http://zip.net/bwq7v0
Rafael
Valore - https://rafaelvalore. wordpress.com/
Saber o que certos autores pensam é sempre interessante. Mas nem sempre queremos saber somente o básico, queremos mais, queremos saber como tudo começou, se querem viver da arte de escrever e se escritores de terror são na verdade "terroristas"..rsrs..
Vamos descobrir?
1. Quando você
escreveu um texto literário pela primeira vez?
TJ
Nicodemus
- Existe aquele velho clichê de se dizer que escreve desde pequeno e que
praticamente nasceu para isso. Bem, não fujo dessa realidade, sempre gostei de
criar histórias que iam desde os gibis até o terror que adoto atualmente, mas a
primeira vez que escrevi almejando a publicação foi a cerca de quatro anos
atrás, com meu primeiro romance, O
Condado.
Rafael Valore
- Eu sempre me interessei por literatura desde
pequeno, e sempre fui bem em redação na escola. As minhas notas de redação e
inglês sempre foram as que me impulsionaram instituição adentro nos
vestibulares que prestei. Entretanto sentar-me de frente para a tela em branco
com a decisão de escrever algo que tivesse a responsabilidade e a pretensão de
ter uma qualidade profissional aconteceu apenas por volta de 2012, 2013.
Mauricio R
B Campos
- Para mim, a arte da
ficção está ligada aos processos imaginativos e lúdicos. Paralelo a isso sempre
fui um leitor voraz, e os primeiros autores que me influenciaram foram Frank
Herbert, Ernest Hemingway e Machado de Assis. A primeira poesia que escrevi com
qualidade literária foi inspirada em um jogo de RPG, isso em 1999. Eu enviei essa
poesia para um web site especializado no RPG e recebi um feedback legal. Daí em
diante não parei mais. É claro que nesses últimos anos aprimorei muito meu
texto, participei de dezenas de antologias, e, o mais importante: fiz muitos
amigos nessa jornada.
Marcio Muniz - Escrevi vários cerimoniais de minhas amigas que completavam então 15
anos e faziam festas de debutante. Nessa época, eu também escrevia diálogos
para histórias em quadrinho que um amigo meu de colégio desenhava e depois
vendíamos aos colegas. Com menos de 20 anos de idade eu tinha 4 contos escritos
e um dia me veio o desafio: "Preciso escrever uma história, um livro"
Comprei um caderno de 100 páginas e em duas semanas eu tinha criado a história,
ainda inédita. Tudo manuscrito. hoje tenho quatro romances prontos, vários
contos e cerca de umas 500 poesias que até 2014 eu guardava só para mim.
2. O que é o ato de
escrever para você?
TJ Nicodemus - Dizem
que a única coisa que somos literalmente
obrigados a fazer é se alimentar e respirar, no entanto, vejo que para alguns
escritores – e me incluo nesse meio – escrever entraria nessa lista como algo
essencial. As ideias fervilham na minha cabeça e certamente me enlouqueceriam
se de alguma forma eu não pudesse transferi-las para outro lugar, o papel.
Hoje, sem dúvidas, posso afirmar que escrever faz parte do que sou. É minha
essência.
Rafael Valore
- Escrever é expor medos, falhas e qualidades
morais, transportar o leitor para dentro do meu mundo de sombras e pequenas
vitórias.
Mauricio R
B Campos
- Escrever é minha grande
paixão. Escrevendo eu não só crio, como descubro outras facetas da vida em cada
nova personagem que vai para o papel. Agora, por exemplo, estou escrevendo um
conto sobre um DJ. Então em minhas pesquisas descobri que o mercado de música
eletrônica movimentou 3 bilhões ano passado, que hoje os DJS podem usar três
tipos de aparelhagem de som, as CDJ's, notebooks ou LP's. Aprendi sobre os
principais nomes da cena eletrônica e como funciona um festival como o
Tomorrowland. Então, é isso, aquele chavão de ser escritor é viver muitas
vidas é muito verdadeiro para mim.
Marcio Muniz - O ato de escrever para mim é uma libertação, uma forma que
tenho de dar vazão aos meus sentimentos, viajar, devanear e simplesmente
vivenciar uma série de situações. Eu não consigo me deixar de ver em cada
história que escrevo, seja como mero observador, mas a maioria das vezes como
personagem, uma espécie de alter ego. Escrever para mim sempre foi não uma
fuga, mas um reencontro comigo mesmo.
3. Porque escrever
terror? Isso não te assusta ou deprime de alguma forma?
TJ
Nicodemus
- O Terror é uma válvula de escape. De
certa forma colocamos no papel aquilo que não queremos encontrar nunca na vida
real. Nossos medos. Nossos pesadelos. É como se disséssemos ao leitor: Toma
tua dose literária de terror que isso lhe imunizará (ou amenizará) os teus
terrores reais diários. Existe uma antiga lenda que conta a história de
dois irmãos videntes, um visualiza tudo de bom que acontecerá no futuro e o
outro vê apenas as coisas ruins. A lógica normal nos diria que aquele
visionário das coisas ruins seria triste e deprimido, porém ele se mostra muito
mais feliz que o seu gêmeo, isso porque o terror de suas visões lhe prepara
para o pior que pode existir, e sempre que algo não tão ruim acontece ele
sente-se feliz e aliviado. É assim que me sinto.
Rafael Valore - Eu confesso que em
algum ponto enjoamos de sangue, sangue, sangue. Se estiver deprimido às vezes
não consigo trabalhar com temas muito perturbadores, e engaveto o conto por
algum tempo. Por isso mesmo comecei a escrever algumas crônicas voltadas para
minha experiência com a religião católica. Infelizmente nem nisto eu escapo do
horror e do sobrenatural; foi de certa forma como Deus me ajuntou, ele mandou o
diabo me apoquentar. Mas em geral posso manter distanciamento do
tema, posso entrar e sair da mente do personagem à vontade. As vezes posso
sublimar uma dor muito forte através da escrita, às vezes não consigo
concentração o suficiente para escrever. Na minha opinião, o gênero de terror é
somente uma linguagem como todas as outras, que eu uso como metáfora para as
coisas da vida diária, o amor, a desilusão, a fome e a saciedade, os bons e os
maus momentos. Um artista plástico e visual chamado Patrick
Woodroffe sempre teve um sonho com um monstro desde a infância; quando ele
desenhou a criatura no papel, parou de sonhar com ela. Ponha o monstro no papel
e verá que ele não é tão ameaçador assim. Destarte não enxergo diferença
temática essencial entre a música e a poesia da banda Black Sabbath, por
exemplo, com o cuidado do escultor medieval que cria uma gárgula perfeita, e
que será colocada num ponto tão alto da catedral gótica que ninguém nunca irá
ver, esculpindo o horror, mas sempre em honra de Deus. Não aconselho que
crianças leiam meus textos, entretanto.
Mauricio R
B Campos - O terror é
o mais primitivo dos sentimentos, e mergulhar em uma história de terror é como
resgatar sensações perdidas na ancestralidade do nosso lado animal. Esse
mergulho controlado no medo, no qual você sabe que quando fechar o livro não
haverá um assassino esperando, é um tipo de prazer.
Marcio Muniz - Na verdade, terror é um gênero que gosto muito de ler mas que
não tenho o mesmo êxito em escrever. Conheci muitas histórias do Stephen
King no cinema, antes de nos livros, sem sequer saber que eram dele. Escrever
terror para mim hoje é na verdade um grande desafio.
4. Você se identifica
com outro gênero além do terror? Qual?
TJ
Nicodemus
- Minha veia essencialmente dramática é que me levou a escrever terror. O que
seria mais dramático do que ver um ente querido sendo desfigurado por um
monstro ou Serial killer? Os distúrbios psicológicos ocasionados por tais eventos
me fazem optar pelo drama como um dos meus gêneros preferidos.
Rafael Valore - Claro, com um pouco de todos. Eu garanto que eu posso
encontrar pelo menos um escritor que eu goste em cada gênero literário que
existe. Gosto de coisas que flertam com mais de um gênero, sem limites muito
definidos. A obra de Thomas Mann, por exemplo, acho difícil catalogar.
Mauricio R B Campos - Eu
tento não me prender a gêneros. Escrevo em todos os gêneros. Já escrevi
aventura, mistério, alta literatura, ficção científica, erótico, e agora estou
me aventurando no romance. Para mim a grande vantagem das antologias é essa,
possibilitar experimentações literárias sem que o autor precise se dedicar por
meses na confecção de um romance.
Marcio Muniz - Na verdade gosto de retratar o cotidiano mas sempre
dando a ele um quê de surreal, bem sutil, fazer as pessoas pensarem: "ah,
mas isso não é possível!" e logo em seguida se questionarem: "Por que
não?". Por ser muito romântico também gosto muito de histórias de amor.
5. No Brasil, para você, escrever
pode ser uma profissão algum dia?
TJ
Nicodemus
- O Brasil enxergou tardiamente o mercado literário nacional como algo
lucrativo, e isso acabou por não incentivar bons escritores a focar apenas
nessa profissão. Hoje, com o surgimento de novas modalidades de publicação, o
horizonte passou a ser algo possível de alcance. Logicamente ainda temos muito
que evoluir, mas certamente, quando deixamos de apenas publicar os best-sellers
estrangeiros, passaremos a ver o potencial do nosso mercado, e saberemos
reconhecer o autor nacional com o prestígio que ele merece. Muito em breve.
Rafael Valore
- Eu sonho com isso.
Mauricio R B Campos - Não
tenho ilusões quanto a isso. Contam-se nos dedos os autores que conseguem
alcançar esse patamar no Brasil hoje em dia. Eu escrevo por que gosto e tento
alcançar o melhor público leitor que conseguir. Sou bem realista quanto a isso
hoje. Já existem autores talentosos como o Jacques Barcia e o Carlos Orsi, por
exemplo, que submetem seus trabalhos em inglês direto para editoras americanas
buscando um lugar ao sol em um país que têm mercado.
Marcio Muniz - Por enquanto isso para mim não passa de um sonho. Em nosso país é bem
complicado ser reconhecido e principalmente viver de literatura, mas quem sabe
um dia, né? Afinal, são nossos sonhos que constroem nossa realidade futura. Por
enquanto, me contento em ser lido, que para mim no fundo, deve ser o principal
objetivo de um escritor.
6. Escrever em
antologia paga por regime de cooperativa-cota é vantajoso para você? Por quê?
TJ Nicodemus - Para
mim de fato é, pois optei por uma editora que preza pela divulgação do escritor
e de seu trabalho através do investimento em feiras, traduções, bienais e
outros eventos, mas infelizmente o que vemos hoje dia é que essa postura é algo
raro no mercado editorial, isso porque o principal objetivo de algumas editoras
é apenas servir de gráfica, imprimindo o livro e embolsando o lucro. Por isso é
essencial observar o objetivo da editora ou do projeto, antes de desprender
tempo e dinheiro em algo que não lhe proporcione o devido reconhecimento.
Rafael Valore - Claro, eu me sinto um escritor agora. Eu fui
publicado, eu fui lido, eu fui resenhado. Isto é o começo que encontrei, e sei
que foi Deus que colocou meus colegas de antologias e a organizadora em meu
caminho. Eu ainda não sou um profissional pago, e talvez nunca venha a ser, mas
começo a obter um pouquinho de reconhecimento; a sensação é grande de saber que
tem contos meus em bibliotecas em Portugal e Argentina, por exemplo.
Mauricio R B Campos - Acredito
ser vantajoso pelo motivo que já citei, da experimentação, e acrescento a esse
outro que acho melhor: o networking. Nós somos o futuro da literatura
brasileira, essa é a verdade, que a literatura independente nacional será o que
fizermos dela. Então o colega de antologia paga de hoje poderá ser o
organizador de uma antologia por uma editora que banque esse processo amanhã.
Isso já aconteceu comigo e é uma realidade do mercado hoje. Dezenas de
antologias são lançadas todos os anos no Brasil atualmente, mas a grande
maioria dos autores desiste quando descobre que a realidade do escritor
brasileiro não é tomar uísque em frente ao computador e receber cheques
polpudos das editoras. Os que perseveram são os que herdam o mercado.
Marcio
Muniz - Escrever
nesse regime pode parecer para alguns, um sinal de demérito, tipo "o cara
tem que pagar para lançar!" e isso é um pensamento pequeno, principalmente
em nosso país. Há antologias e antologias. No caso do grupo Antologias
brasileiras, escrever assim é um imenso prazer devido a qualidade dos textos,
dos trabalhos e do processo de seleção a qual somos submetidos. Além de
aprender com outros autores, conhecer outros estilos, ser lido por um número
maior de pessoas e ser desafiado por cada novo tema proposto. Sim, para mim é
muito vantajoso, ainda que em termos de retorno financeiro não seja uma grande
opção, as demais vantagens justificam e muito escrever sob esse tipo de regime.
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